Para quem gosta de HQs/Quadrinhos, a série LUMBERJANE é indicada por 10 em 10 leitores LGBT ou não.
Segue um review da série feito pelo blog
VALKIRIAS , em 2016:
"Apaixonada por quadrinhos como sou – e fã da incrível
Noelle Stevenson, autora de
Nimona – eu
não poderia deixar passar o lançamento de 2016 da Editora Devir, o
quadrinho desenvolvido pela própria Noelle e outras artistas incríveis
como
Shannon Watters,
Grace Ellis e
Brooke A. Allen. Juntas, elas criaram as
Lumberjanes,
cinco amigas que estão passando o verão em um acampamento para garotas e
se envolvem com mistérios sobrenaturais, muitas aventuras adolescentes
e, claro, o fortalecimento da amizade entre elas.
Originalmente concebida como uma minissérie em oito partes, as aventuras das Lumberjanes
tiveram uma recepção tão positiva nos Estados Unidos que o material
acabou se transformando em uma série mensal. Além do grande apelo junto
ao público, as Lumberjanes também conquistaram a crítica
especializada ao receberem o prêmio Eisner – o Oscar dos quadrinhos – de
Melhor Nova Série e de Melhor Série para Adolescentes em 2015. O
diferencial de Lumberjanes está, claro, em ter sido uma trama
criada por uma equipe completamente feminina, o que reflete
especialmente na condução das histórias, na diversidade das personagens
e, claro, na amizade entre elas.
As cinco amigas que protagonizam as quatro histórias presentes no
encadernado número 1 – Jo, April, Mal, Molly e Ripley – não poderiam ser
mais diferentes entre si. Tanto em suas características físicas quanto
psicológicas, as cinco amigas poderão ser a inspiração para muitas
meninas adolescentes, visto que elas são incrivelmente divertidas e
donas do próprio nariz, se metendo em confusões pelo simples prazer de
desafiar o novo e inexplorado. A variedade de personagens, suas etnias,
características e gostos pessoais enriquece muito a trama, visto que os
comportamentos diversos trazem um sem número de dinâmicas inspiradas
para a história. O quinteto enfrentará yetis furiosos e monstros do rio,
desafiará estátuas de pedra para uma queda de braço e tudo isso
enquanto exploram uma caverna cheia de obstáculos e se embrenham por
florestas à noite.
No Acampamento Para Moças Meninas da Pesada da Senhorita Qiunzella Thiskwin Penniquiqul Thistle Crumpet (ufa!), Jo, April, Mal, Molly e Ripley estão sob a tutela da escoteira mais experiente, Jen (que é negra, outro ponto para Lumberjanes),
que, a princípio, não acredita nas histórias mirabolantes das cinco
meninas, principalmente quando tais histórias estão reachadas de coisas
estranhas, como um ataque inesperado de raposas e mensagens clamando por
“cuidado com o sagrado gatinho!”. O que Jen não esperava, no entanto, é
se ver envolvida nas aventuras das meninas ao mesmo tempo em que tentam
fugir de um esquisito grupo de garotos escoteiros que parecem ter dupla
personalidade – e tudo isso enquanto ganham distintivos de “Varei a
Noite” para excursões noturnas à floresta, de “Boa na Canoa” para a
habilidade de remo no rio e “Distintilho Trocativo”, para trocadilhos
espirituosos.
As autoras se apropriam da mística dos acampamentos de verão
norte-americanos e os escoteiros para criar um ambiente recreativo no
qual as cinco meninas podem se expressar e desenvolver a própria
narrativa – o nome do grupo, inclusive, Lumberjanes, vem de um
trocadilho com a palavra em inglês lumberjack que nada mais é
do que lenhador em português. Ao trocar o final da palavra, ‘jack’, por
‘jane’, as autoras criam uma denominação que subverte seu significado
original, tornando feminina uma palavra – e, por que não – uma atividade
tão masculina.
O divertido de acompanhar as aventuras das Lumberjanes é que elas, em
momento algum, deixam de se divertir ou de descobrir o novo por serem
meninas. Elas se jogam no desconhecido, enfrentam desafios e sempre
mantem o bom humor e independência enquanto reforçam seus laços de
amizade. Uma das características mais divertidas do texto do quadrinho
são as referências das garotas: no lugar de simplesmente gritarem de
susto ou usar uma onomatopeia comum de espanto, as meninas exclamam
evocando nomes como os de Joan Jett, cantora norte-americana, ou Mae Jemison,
primeira astronauta afro-americana. Incluir esse tipo de referência
durante a trama trabalha à favor de seu leitor que poderá descobrir
novas mulheres maravilhosas em que se inspirar.
Por boa parte do quadrinho, inclusive, não há personagens masculinos
relevantes. Eles até aparecem em forma de estátua, se é que dá para
considerá-la um personagem relevante, e em um dos capítulos há o grupo
de escoteiros e o líder misterioso – e louco – deles, mas todas as
personagens com nome, interesses e histórias são femininas. Além de Jen,
temos outra figura de poder na diretora do Acampamento Para Moças Meninas da Pesada,
Rosie. Ela parece saber bem o que está acontecendo no acampamento,
principalmente com relação aos acontecimentos bizarros presenciados
pelas meninas, mas só poderemos saber mais detalhes a respeito desse
mistério nos próximos volumes de Lumberjanes.
As artistas responsáveis pelo design do quadrinho – Shannon Watters
e Brooke A. Allen – conseguem passar com maestria a dinâmica das
aventuras do quinteto por meio de suas ilustrações coloridas e
vibrantes. O roteiro – de responsabilidade de Noelle Stevenson e Grace
Ellis – não perde tempo com introduções longas e tediosas e parte logo
para a aventura. Nas primeiras páginas já somos arremessadas no meio das
confusões das cinco amigas e daí é só correria. O que poderia ficar
confuso nas mãos de roteiristas menos aptos se transforma em uma
sucessão de acontecimentos empolgantes, nos deixando reféns da história –
eu, particularmente, não soltei o quadrinho enquanto não terminei de
ler. As Lumberjanes não hesitam diante da ação e o enredo acelerado
passa exatamente isso: uma sucessão de acontecimentos intercalados com
boas doses de mistérios e desenvolvimento das personagens, tudo dosado
de maneira a nos deixar sempre querendo mais. E, talvez, o único ponto
negativo de Lumberjanes é justamente isso, a pouca quantidade de páginas (sempre vou querer mais quando adoro a história, desculpa mundo).
Não há dúvidas de que as histórias das Lumberjanes possuem todo o
potencial para conquistar leitores de todas as idades, de meninas
novinhas à adolescentes e adultas. As aventuras de Jo, April, Mal, Molly
e Ripley são espirituosas e animadas, sempre regadas com muito girl power
e amizade feminina, além de serem belamente diagramadas, desenhadas e
coloridas. Embora não exista no Brasil uma tradição tão forte com os
acampamentos de verão, é possível, mesmo assim, se ver identificar com
as confusões que as cinco amigas se metem, principalmente pelo fato de
que, tirando o fator sobrenatural, elas são garotas como eu ou você. Lumberjanes
é um quadrinho indicado para todos aqueles que buscam um entretenimento
encantador e, o principal, escrito e protagonizado inteiramente por
mulheres. Como as próprias Lumberjanes não se cansam de dizer, “amizade é
tops!” e você vai encontrar muito disso nessas histórias."